Ceiça
Ferreira *
Mãe Gaiaku
Luiza, Virgínia Rodrigues, Edith do Prato, Dalva do Samba, Mãe Filhinha. Essas
mulheres, com suas vozes, histórias de vida, ensinamentos e experiências guiam
a viagem do percussionista pernambucano, Naná Vasconcelos pelo recôncavo
baiano, proposta do documentário “Diário de Naná”, que dirigido pelo cineasta Paschoal
Samora acompanha essa busca da música do sagrado e do sagrado da música.
No
começo do filme, com os meninos e meninas do projeto Bagunçaço, numa oficina
com instrumentos confeccionados a partir de materiais reciclados, Naná afirma
“o primeiro instrumento é a voz, e o melhor é o corpo”. É com o corpo que ele
faz som com o caxixi, ouve e capta as sonoridades das ondas do mar, da feira,
do trem, e principalmente, ouve histórias de outros corpos, que compartilham a
palavra e toda a afetividade que ela carrega.

Acompanhamos
Naná em armazéns à procura de um prato, não um qualquer, mas um que faça
música. É um presente para Dona Edith do Prato, sambista de Santo Amaro, que
ficou conhecida por fazer música com esse objeto doméstico. Com ela, Naná canta
“o tombo do pau” e o “viola meu bem”, sambas tradicionais do recôncavo baiano.
Planos
detalhe de uma outra mulher arrumando o pano na cabeça, e de suas mãos tocando um
instrumento de madeira são o prelúdio do encontro de Naná Vasconcelos com Dalva
do Samba. E eles literalmente caem no samba, dançam ao som de “Beiramar”, uma
das diversas composições dessa sambista, que declara: “o samba é a vida, é
aonde acaba todas as tristezas”.
De
maneira irreverente, Dalva conta alguns aspectos de sua história. E até com o
amargor do jiló e da vida ela consegue fazer samba. Revelando assim um
importante valor de nossa identidade afro-brasileira, a ludicidade, que é a
capacidade que homens e mulheres negras tem de, mesmos nas condições mais
adversas, manter seu desejo e alegria de viver, sorrir, brincar, dançar.

Notas
e Referências:
SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 3.ed.
*Ceiça Ferreira é jornalista, doutoranda em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), e desenvolve atividades com mídia, culturas negras e comunicação em movimentos sociais.
O documentário "Diário de Naná", será exibido
nos dias 05/03 (segunda-feira, às 15h) e 07/03 (terça-feira,
às 12h30),
no Goiânia Cine Ouro (ingressos: R$1), pela Semira
Mostra Mulheres no Cinema.
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