Ceiça
Ferreira *
Mãe Gaiaku
Luiza, Virgínia Rodrigues, Edith do Prato, Dalva do Samba, Mãe Filhinha. Essas
mulheres, com suas vozes, histórias de vida, ensinamentos e experiências guiam
a viagem do percussionista pernambucano, Naná Vasconcelos pelo recôncavo
baiano, proposta do documentário “Diário de Naná”, que dirigido pelo cineasta Paschoal
Samora acompanha essa busca da música do sagrado e do sagrado da música.
No
começo do filme, com os meninos e meninas do projeto Bagunçaço, numa oficina
com instrumentos confeccionados a partir de materiais reciclados, Naná afirma
“o primeiro instrumento é a voz, e o melhor é o corpo”. É com o corpo que ele
faz som com o caxixi, ouve e capta as sonoridades das ondas do mar, da feira,
do trem, e principalmente, ouve histórias de outros corpos, que compartilham a
palavra e toda a afetividade que ela carrega.
Essa anciã que já havia aparecido cantando em sequências anteriores, agora conta um pouco de sua história de vida, a família-de-santo, os preconceitos enfrentados e as mudanças impostas à tradição; assim como Naná, também nos encantamos com a altivez e sabedoria de Gaiaku Luiza.
Acompanhamos
Naná em armazéns à procura de um prato, não um qualquer, mas um que faça
música. É um presente para Dona Edith do Prato, sambista de Santo Amaro, que
ficou conhecida por fazer música com esse objeto doméstico. Com ela, Naná canta
“o tombo do pau” e o “viola meu bem”, sambas tradicionais do recôncavo baiano.
Planos
detalhe de uma outra mulher arrumando o pano na cabeça, e de suas mãos tocando um
instrumento de madeira são o prelúdio do encontro de Naná Vasconcelos com Dalva
do Samba. E eles literalmente caem no samba, dançam ao som de “Beiramar”, uma
das diversas composições dessa sambista, que declara: “o samba é a vida, é
aonde acaba todas as tristezas”.
De
maneira irreverente, Dalva conta alguns aspectos de sua história. E até com o
amargor do jiló e da vida ela consegue fazer samba. Revelando assim um
importante valor de nossa identidade afro-brasileira, a ludicidade, que é a
capacidade que homens e mulheres negras tem de, mesmos nas condições mais
adversas, manter seu desejo e alegria de viver, sorrir, brincar, dançar.
E é pedindo benção à Mãe Filhinha (outra
sacerdotisa do candomblé), que Naná Vasconcelos parece ter chegado ao seu
destino nessa viagem pelo recôncavo baiano. Guiado por vozes ancestrais,
principalmente femininas ele desvela esse rico universo de poesia, ritmo e melodia,
que constituem a musicalidade afro-brasileira.
Notas
e Referências:
SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 3.ed.*Ceiça Ferreira é jornalista, doutoranda em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), e desenvolve atividades com mídia, culturas negras e comunicação em movimentos sociais.
O documentário "Diário de Naná", será exibido
nos dias 05/03 (segunda-feira, às 15h) e 07/03 (terça-feira,
às 12h30),
no Goiânia Cine Ouro (ingressos: R$1), pela Semira
Mostra Mulheres no Cinema.
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